Não o Sol, não aquele que esquentou o corpinho dela tantas vezes, durante tantos anos.
Hoje todos os cães da cidade deveriam guardar silêncio e sequer ganir. Especialmente todos aqueles que - mesmo tão pequena - ela sempre enfrentou com coragem.
Apaguem o Sol, acabem com as estrelas, pintem o céu de luto. Me deixem sair daqui, ir para qualquer lugar onde ela esteja. Ou ao menos onde ela não esteja. Onde nenhuma parte dela, nenhuma lembrança, nenhuma memória possa me atingir. Calem os cães, desliguem as luzes, parem as músicas, acabem com o riso.
Hoje eu saí de casa com a minha Happy, pequenininha, velhinha, com dor na patinha, que já deu tanto trabalho. E voltei sem ela, com os braços vazios. Durante todo o caminho, foi difícil segurá-la em uma posição confortável, que permitisse toda aquela inquietude natural dela e que a tranquilizasse.
Quando chegamos ao veterinário, em busca de algum remédio para a dor, ela era o menor cachorrinho do lugar. Em meus braços, embrulhada em uma toalha laranja, ela olhava tudo - com o olho bom - com curiosidade, querendo entender. Quando a mulher de avental branco a pegou no colo, ela sabia e chorou. E cada vez que ela chorava, meu coração dava saltos, esmagado dentro do peito. E cada vez que aquele assistente segurava ela de um jeito que ela não gostava, o nó na minha garganta ficava maior. E quando meu irmão falou sobre sacrifício, eu chorei junto com a Happy. Chorei sem conseguir me conter, chorei um choro doído, mas que mal sabia eu, ia doer muito mais.
E quando meu irmão foi ligar para a minha mãe, eu chorei mais. E a cada vez que a minha pequena chorava, eu sabia que eu estava perdendo. Tudo errado. Tudo errado.
Será que aquele assistente desajeitado não sabia que segurá-la esmagando-a contra a mesa fria não era o jeito certo? Achando que não e querendo dignidade, dei a volta na mesa e tomei minha pequena nos braços. Seu corpinho tão quentinho e tão familiar se ajeitou nos meus braços e eu sentia que não podia aguentar. Eu não podia deixar que ela fosse. Eu não podia soltar aquele pedacinho que tinha tanto do meu amor dentro. Foi a última vez que segurei aquela que foi minha companheira durante 14 anos. Foi a última vez que eu beijei aquela cabecinha marrom, chapinhada de branco. Foi a última vez que senti aquele amor todo, incondicional.
Eu não podia ficar na sala, vendo ela morrer. E então eu saí. Saí e a deixei sozinha. Deixei ela com aquelas pessoas estranhas, que sequer sabiam segurá-la, que sequer a amavam.
De volta na recepção, eu ouvi ela chorar e gritar e olhei para a sala. A mulher de avental branco a segurava e vi que a Happy olhava pela porta, como quem estivesse procurando. Como quem quisesse saber porque a deixei ali sozinha, com aquelas pessoas estranhas? Eu fechei os olhos e virei a cabeça. E mais uma vez eu a deixei sozinha. E mais uma vez, eu abandonei aquela que jamais me abandonaria, se pudesse escolher. Eu não conseguia ver nada, só dor.
A porta verde foi fechada, mas mesmo assim eu ainda ouvia os últimos gritos dela. E cada um deles enterrou uma faca no meu coração. E eu não posso me perdoar.
O caminho pra casa foi silencioso, com lágrimas lavando meu rosto e me cobrindo desse sentimento que não dá pra explicar. Eu nunca quis tanto que o elevador demorasse para me entregar em casa. Eu nunca quis tanto adiar alguma coisa.
Entrei pela porta da sala, porque eu não aguentaria olhar para a caminha vazia dela. Mas é inevitável passar por ali, pelo lugarzinho onde ela sempre esteve. Ela, que sabia se cobrir sozinha. Ela, que sentava e deitava como gente, espirrava como gente, miava como gato e amava como ninguém mais.
Apaguem o Sol, acabem com as estrelas, pintem o céu de luto.
A pior sensação do mundo é continuar procurando por ela, esperar ouvir o latido, o som das patinhas no chão, ver o pacote de comida aberto na janela. É vê-la por toda parte e ter a terrível consciência de que ela não está mais aqui e nunca mais estará. Ela não vai mais comer aquela comida, nem se enrroscar naquele cobertor. Ela não vai latir quando o interfone tocar, ou quando sentir fome. Ela não vai mais espirrar, fazendo aquela cara de bebê. Ela não vai mais sofrer, mas Deus, como posso evitar que eu sofra? Como eu faço para parar de procurá-la?
Quem vai me amar como ela amava? Mesmo quando eu pouco fazia por ela? Mesmo quando eu reclamava dela? Quem vai? E quem vai fazer essa dor parar?
Essa ausência se faz presente o tempo inteiro, acompanhada dessa dor que não me abandona e dessas lágrimas, que não me deixam. Olhe para mim agora mesmo e você verá um vazio bem grande e assustador. Vai embora Sol. Vai para onde quer que ela esteja, esquentar o corpinho dela, do jeito que ela sempre gostou tanto, enquanto ela dorme. Para sempre.
Eu te amo tanto! Você estará sempre viva em mim.
14 palpites bem-vindos!:
Emocionante.
Que o tempo feche essa ferida em seu peito e que a saudade venha e traga apenas boas lembranças.
=*
Di, tô chorando LITROS aqui, literalmente :/ Minha filhote quase morreu atropelada, e eu vi isso acontecer, nunca chorei tanto, nunca sofri tanto quanto naquela primeira semana. Ela tem 9 anos e só de pensar que vou perdê-la um dia meu coração se retorce em dor.
Sei que essa dor não passa tão facilmente, nem posso dizer que vai passar por completo, mas apenas espero que você fique bem.
;*
Dee, que triste....I'm sorry....ate eu estou chorando aqui do outro lado do planeta, sei exatamente como e....e sei que vai passar, a lembranca vai ficar sempre viva com vc. Take care, ok?
Beijos
Poxa Di, logo eu q não sou apegada a animais, pq não tenho mto jeito para animais de estimação, fikei emocionada. Lindo texto!
Que o tempo feche essa ferida em seu peito e que a saudade venha e traga apenas boas lembranças.
;*
Aceite minhas mais sinceras condolências, garota.
Espero que essa dor que enluta sua alma seja dissipada com o auxílio do senhor das razões ; O tempo.
O latido da sua cachorra fora transmutado pelo silêncio mais agudo, o da perda. Mas você precisa seguir em frente, enxugar as lágrimas que custam a esgorrerar sobre o seu semblante e entender que todos nós estamos fadados a isso.
Eu tenho certeza que tu não irá enterrar sua cachorra apenas em lugar qualquer, estou convicto de que ela já esta sepultada em seu coração, isso que é importante. Pois saiba que os sentimentos mais sinceros não são tateados mas sim sentidos, sendo assim, dedique cada batida de coração para sua amiga Happy.
ABRAÇO.
Ai Diandra que triste!Desejo de coração que você se recupere logo.
=(
Toma, é um abraço. Fiquei mto triste....
eu lamento muito...
e não tenho mais o que dizer.
='(
Oi Diandra, Tudo bem?
Meu nome é Patricia Perez, estou trabalhando na divulgação do 5º Concurso Universitário de Jornalismo CNN. Acredito que isso possa ser interessante para você e para os leitores desse blog e do Felicidade Clandestina.
As inscrições começaram no dia 24 de março e podem ser feitas até dia 29 de junho de 2009. O tema deste ano é “O uso da tecnologia no desenvolvimento social'.
A novidade de 2009 é que o estudante poderá enviar o vídeo de até 2 minutos pelo YouTube, sendo que ele poderá produzir quantas matérias quiser. O concurso é válido somente para estudantes de jornalismo.O ganhador conhecerá os estúdios da CNN International, além de ter sua matéria exibida pelo canal.
As inscrições podem ser feitas no site:
www.concursocnn.com.br
Acompanhe ainda as novidades no Blog:
http://www.concursocnn.com.br/2009/blog/
e fique à vontade para esclarecer quaisquer dúvidas comigo,
por este email ou pelo telefone: (11) 3711-8131
Obrigada pela atenção.
Patricia Perez
patricia@ichimps.com.br
Que triste Di!
Poxa, eu sei é terrível perder um bicho que está conosco há tanto. Pior ainda quando é para sacrificar.
Lamento mesmo...
Se for chorar, chore de alegria. Por te-la conhecido. Eu sei que não é facil, mas faria ela muito feliz se ao menos tenta-se.
amei o post, ficou mó lindo
dah uma passada nom meu blog:
http://my-upp.blogspot.com/
Você vai superar. Tenho certeza, estou chorando demais, mas lembre dos melhores momentos e você nunca abandonou-a, só a salvou de um sofrimento
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