sexta-feira, novembro 06, 2009

Um conto sobre aquilo...

Era daquelas que não acreditavam no amor; Anos atrás, ainda no meio da adolescência havia se machucado de forma irremediável. Nunca mais iria passar por aquilo, prometeu a si mesma. Para cumprir a promessa, envolveu-se com tipos errados, deixou de ligar para aqueles que pareciam certos e apagou toda e qualquer imagem dos príncipes encantados dos contos de fadas da infância.

Por muitas vezes ficou em casa. Recusava-se terminantemente a namorar. De alguma forma, nem ela mesma sabia qual, aquilo tudo deu certo e nunca mais se apaixonou.

Depois de um tempo - muito tempo - porém, começou a desejar isso. A querer passar as tardes de domingo deitada na frente da televisão com alguém. A sonhar andar de mãos dadas com alguém com quem pudesse conversar sem máscaras e usar as palavras "concomitantemente", "osmose" e "néscia" sem medo de que não fosse compreendida. Passou a imaginar a si mesma sentada na sala escura do cinema, com alguém sem rosto, mas cujo espacinho entre o pescoço e o ombro fosse perfeito para sua cabeça. Como se tivesse sido especialmente feito para ela. Que grandecíssima boba, ela pensava.

Com o tempo passando e nada disso acontecendo - afinal, ela sempre conseguia se afastar das pessoas - começou a sofrer de um jeito diferente. Nada acontecia porque também prometeu a si mesma nunca mais namorar sem estar apaixonada. (Ela e sua promessas!) Sempre enjoava das pessoas em uma questão de dias. E nunca, absolutamente nunca se apaixonava.

Começou então a suprir os espaços da sua vida e do seu coração de outras formas. Algumas pouco ortodoxas, ela confessava. Foi quando em um dia ensolarado tudo mudou, sem aviso, de forma extremamente repentina e inesperada. Bem quando sua vida rumava para um caminho que não lhe interessava, todo e qualquer plano que tinha feito foi alterado.

Ele não era über musculoso, nem tinha 1,80 m; Ele não dirigia uma BWM, nem ganhava oito paus por mês. Ele não era filho de um desembargador poderoso. Ele tinha olhos verdes, um sorriso sensacional e falava francês. Torcia para o mesmo time de futebol que ela e tinha - ela tinha certeza - o melhor abraço do mundo; Ele sabia exatamente como fazê-la rir, usava a palavra "osmose" por osmose e falava "sui generis", afinal, assim ele o era. Ele gostava de muitas coisas que ela também curtia e respeitava tudo o que entre eles fosse diferente, a família dele a tratava como uma princesa. Já ele, a tratava como uma rainha.

Por incrível que pareça, a cabeça dela encaixava perfeitamente no espacinho e, mesmo com tudo conspirando contra, tudo conspirava a favor. Foi quando ela descobriu que sempre esteve errada, desde o início. Foi quando ela entendeu tudo o que se passou, durante todos os anos anteriores. E foi quando ela teve certeza de que sim, o amor existia. Tão forte quanto o ruído de um avião que sobrevoa baixinho, tão certo quanto o beijo dele lhe parecia.