terça-feira, dezembro 30, 2014

Sem desejos para 2015

Apesar de não ter sido um ano fácil, 2014 foi memorável. Foi um período de realização de sonhos e foi quando pudemos perceber que é possível sonhar ainda mais alto. Para mim, foi esse o ano em que ficou claro que um ou dois passos para trás podem servir apenas para dar um impulso ainda mais forte para frente. E que impulso!

O ano que está virando a esquina vem com tudo, com força suficiente para nos derrubar. Quem não se segurar ou não estiver preparado, vai ser atropelado. Para 2015, eu poderia desejar coragem e força. Mas, para o próximo ano, eu não tenho desejos. Mais que isso, para este novo ano eu tenho desafios.

Eu desafio a mim mesma e a você a superarmos as pessoas que fomos em 2014. As pessoas que você e eu somos. Desafio-nos a alçar voos ainda mais altos. A irmos mais longe. A darmos mais de nós mesmos. A nos entregarmos mais para entregarmos ainda mais. Desafio-nos a respeitar-nos mais. A realizarmos mais e a falarmos menos. O desafio para 2015 envolve esperar menos, em todos os sentidos. Esperar menos que as coisas aconteçam e fazer mais para que elas efetivamente virem realidade. Esperar menos das pessoas. Esperar menos pelo futuro e fazer o melhor que pudermos pelo presente.


Que 2015 seja um ano de desafios. E que a gente esteja preparado para eles. Depende de nós. 

quarta-feira, setembro 03, 2014

domingo, dezembro 29, 2013

#2 - Nem tudo que é bonito é amor.

Havia dias em que eu desejava que acordar não fosse uma opção. Esse era um deles. Se ao menos eu tivesse conseguido dormir! Acendo a tela do celular apenas para ver o que eu já sabia: 4h19. Não sei por que eu esperava algo diferente, já que há apenas um minuto era 4h18. Eu estava repetindo essa sequência há pelo menos uma hora. Acendia a tela do celular, via a hora, pensava que eu realmente precisava dormir, pensava em unicórnios coloridos, repassava mentalmente o dia que eu teria pela frente, virava para a parede, pensava em unicórnios coloridos, tentava decidir se eu estaria com fome no café da manhã ou não, pensava mais uma vez em unicórnios coloridos e quando finalmente, com toda a certeza do mundo, havia se passado pelo menos quinze minutos, acendia novamente a tela do celular para conferir as horas e... tadã. Apenas um minuto havia se passado. Eu realmente precisava dormir. 

Unicórnios coloridos. Eu deveria mesmo começar a anotar quantas vezes por dia pensava neles. Ou quantas vezes por noite, já que esse era o período em que eu mais precisava recorrer a imagem mental de lindos cavalos com chifres, correndo em um enorme pasto verde, ao longo de uma montanha intocada pelo homem. Cali, minha melhor amiga, já estava arrependida há milênios por ter me ensinado esse método de dissuasão. 

- Sempre que perceber que você está pensando em Nate, em seu aniversário ou em suicídio force sua mente a voltar-se a coisas boas. Coisas bonitas, positivas, coisas que te animem incomumente, Blair - disse Cali. 
- Como o que? Você sabe que nada tem me animado ultimamente. Nem frozen yogurt - Deus e Cali sabem como sou fissurada em frozen yogurt!
- Não sei. Tente pensar em... Christina Aguilera!
Fecho os olhos.
- Estou tentando pensar nela agora, mas a única coisa que não sai da minha cabeça é a noite em que eu assisti ao The Voice e em como eu pensava no que Nate acharia da performance do Matthew Schuller cantando Hallelujah. 
- Por Deus, Blair! Pare de tentar ligar tudo a esse cara! Isso é tortura chinesa. Esqueça a Aguilera então. Pense em... em... foda-se... unicórnios coloridos.
- Espere. Unicórnios coloridos? De que cor? 
- Não sei! Múltiplas cores. Azuis. Magenta. Com glitter! Qualquer cor. Desde que você pare de pensar nele.
E pronto. Foi assim que eu parei de pensar em Nate Thomas e passei à ser obcecada com unicórnios coloridos. 

Cali havia descoberto o método em um livrinho vermelho que encontrou na área de psicologia da biblioteca da escola. As estantes de psicologia na verdade eram sua mais nova obsessão depois de ter lido absolutamente todos os livros das estantes de ciência e saúde, educação e história americana. O objetivo de Cali era zerar a biblioteca do Hoover High School. Claro que parte do plano de Cali só poderia envolver levar sua melhor amiga desde a 5ª série (eu) à mais pura loucura. Cada novo tema que Cali descobria exigia séculos de dedicação e vício. O que significa que, durante semanas, Cali me diagnosticou com quase todas as doenças que a literatura médica conhece e me deixou completamente apavorada com a possibilidade de pegar Ebola em plena Fresno. Fresno, que fica bem no centro do San Joaquin Valley, na Califórnia, é a cidade em que moro desde... Sempre. Há exatos 16 anos, dezoito dias e... quinze horas, se você gosta de precisão. 

E é exatamente quando estou começando, pela 4731281392ª vez apenas nesta noite (que já está virando dia) a me martirizar pelo que aconteceu no meu aniversário de dezesseis anos que me forço, novamente, a pensar em unicórnios coloridos. Roxos, verdes, laranjas, Nate. Não! Correndo pela colina. Não, não, não, não, não! Unicórnios vermelhos, azuis com lantejoulas brilhantes... e meu celular apita, a luz pisca três vezes e tenho uma mensagem não lida às 4h21 da manhã. Quem em sã consciência estaria acordado a esta hora? Não preciso pegar o celular para saber que é Cali. Sempre é. 
"Pq vc n dorme de 1 vez?"
Como ela poderia saber que eu estou acordada? 
"ZZZzzz estou dormindo. Durma vc." , digito.
Não solto o celular, pois sei que a resposta não levará nem meio minuto a chegar. Mal concluo o pensamento e o celular já está apitando e piscando novamente.
"Vc pd enganar tia anna, vovó serena e até whisky, + ñ me tire de idiota. Pare de c martirizar. é sério"
Ela sabe que eu estou me martirizando. Mas é claro que sabe. Cali consegue dizer o que estou pensando sem que eu precise emitir qualquer som. Por mais que eu tenha tentado disfarçar. Por mais que eu venha tentando agir normalmente. Cali me conhece. Cali sabe o quanto tenho sofrido. Claro que os círculos fundos e escuros sob meus olhos ajudam a me entregar, não importando quantos quilos de corretivo e base eu passe. Claro que o fato das folhas de meu fichário estarem todas cobertas com unicórnios desenhados em caneta azul ao invés das minhas costumeiras anotações sobre a matéria do dia denunciam que algo está acontecendo. Estou um caco. Estou destruída. Não precisa ser nenhum gênio para notar.
"Tentei dormir. Desde as 22h30, para falar a vdde. Mas isso n tá funcionando. Aliás, nem os unicórnios estão me deixando impune, C. N sei mais o q fazer. Pq é q VC n está dormindo???"
Sei que amanhã Cali terá um longo dia, com a escola, reunião com a senhora Bale, nossa conselheira, e com a aula de espanhol para os Smiths. Como é filha de latinos e nascida no México, Cali fala espanhol melhor até mesmo que a minha professora do idioma, Sra. Esmeralda. E é exatamente por ser tão estupidamente boa que Cali dá aulas de espanhol para crianças para ganhar uns trocados. E é justamente por isso que ela deveria estar no décimo sono.
"Merda. Tive uma ideia durante o sono e precisei acordar para anotá-la. Obviamente assim q acordei, soube q vc n tinha dormido ainda. sério, tente um copo de leite quente. bjs, t s2. ZZzzz" 
Sinto-me tão infeliz que não tenho vontade de responder à Cali novamente. Olho as horas no celular e ainda são 4h28. Desde quando as horas começaram a se arrastar tanto? Desde...

Suspiro. Desisto de tentar impedir Nate de dominar meus pensamentos. Foi tudo o que fiz a noite inteira e veja só onde cheguei: passei a noite acordada, lutando com meu próprio cérebro. Estou mais cansada do que antes de deitar. Sinto como se tivesse corrido quatorze voltas ao redor do ginásio do colégio. Quem disse que pensar não cansa?

Penso em Nate. Por que ele tem de ser tão alto? Tão bonito? Tão inteligente? Tão cheiroso? Tão... não meu? As lágrimas invadem meus olhos quando penso em tudo o que poderia ter sido. Elas começam a descer pelo meu rosto quando lembro não apenas do cara incrível que eu perdi, mas também na grande amizade que estraguei. Estúpida. Como pude ser tão estúpida?

"Nem tudo o que é bonito é amor", disse vovó Serena no café da manhã do dia do meu aniversário, sobre qualquer assunto no qual eu não estava verdadeiramente prestando atenção. Eu não sabia bem por que justamente esta frase tinha ficado guardada na minha mente. Mas dava para dizer que eu vinha pensando bastante sobre ela nos últimos dias. Nem tudo o que é bonito é amor. Não era. :(

[...:::: Continua ::::...]



quinta-feira, dezembro 26, 2013

Quando eu crescer

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Eu não sei quem eu quero ser quando eu crescer. Talvez porque this is it. Eu já cresci. E ainda assim, não consigo saber exatamente quem eu quero ser. Acho que a gente perde a conta de quantas vezes na vida ouviu essa pergunta. Quantas vezes respondeu sem nem pensar. Bombeiro. Enfermeira. Princesa. Professora. Jornalista. Atriz. Patinadora do Carrefour. Todos nós sempre tivemos um plano. Parece que ter um plano de vida na infância é fácil. O difícil mesmo é ter um plano para a vida conforme você vai crescendo e não pensar antes de responder deixa de ser uma opção.

Acabou que meu sonho de infância se realizou. E eu realmente me tornei uma jornalista. Claro que não exatamente como todo mundo pensa tão logo que ouve a palavra. Eu não trabalho na TV. Eu não assino matérias nos jornais. Eu não investigo a corrupção. Nem tudo tem na vida tem apenas um aspecto, um lado, um jeito de ser. E eu, com certeza, não quero ser apenas uma coisa.

Quando eu crescer, eu quero ser uma pessoa que se preocupa ainda mais com os outros do que consigo mesma. Quero ser a pessoa favorita de mais de uma pessoa. Quero ser uma amiga mais presente, com menos desculpas na ponta da língua. Quero ser menos um rato e mais uma pessoa marcante por sua força de vontade e decisão. Quero ser uma filha melhor, uma irmã melhor, uma namorada melhor, uma pessoa melhor. Quero ser alguém que coloca menos empecilhos na frente da realização de cada sonho e que enxerga mais soluções, mais modos de realizá-los. Quando eu crescer, quero que o perdão ainda faça parte de quem eu sou. Quero perdoar mais, principalmente a mim mesma. Quero ser uma viajante. Quero ser uma pessoa que aceita e incorpora a permanente tarefa de conhecer o mundo como um caminho para conhecer a si mesma. Quando eu crescer, eu quero julgar menos. Quero passar menos tempo sentada contemplando a vida e mais tempo efetivamente vivendo. Quero ser protagonista da minha história e coadjuvante do conto da vida das pessoas que me cercam. Quero escrever mais. Quando eu crescer, quero ser lembrada - e quem não quer? Quero estudar mais, aprender mais, ser mais. Quero ter menos mágoa e ser mais honesta comigo mesma. Quero aprender a falar mais "nãos" quando o "sim" for tímido e tiver que sair forçado. Quero ensinar o pouco que eu sei em troca do oceano que ainda não sei. Quero conhecer o novo. Experimentar mais, deixar de construir dias uns iguais aos outros e passar a criar mais memórias. Quero ser alguém que espera menos. Menos da vida, das pessoas, das situações de mim mesma. Quando eu crescer, quero ter mais responsabilidade. Quero abraçar mais, quero falar mais o que eu sinto. Quero ser alguém que sorri mais. Quero ser uma pessoa que sonha mais e mais alto, mais longe. Quero empreender. Quero permanecer fiel a mim, a quem eu sou, ao que acredito, aos meus amigos e, principalmente, aos meus princípios e valores. Quero ser melhor em tudo o que eu já faço e passar a fazer inúmeras coisas que nunca fiz. Quero reclamar menos, bem menos e aceitar melhor tudo o que vem, tudo o que me acontece, sem nunca deixar de aceitar a responsabilidade por tudo o que me acontece. Quero entender plenamente o que é ser responsável pelo meu destino e que cada escolha tem uma consequência que te leva para frente ou para trás. Quero acertar mais, mas também quero errar. Errar. Errar, errar muito e errar mais. E depois de tudo isso, quero aprender com cada erro. Quando eu crescer, eu quero não ter medo de começar e recomeçar quantas vezes forem necessárias. E quero que finalmente saber quem eu quero ser não seja o ponto final da minha busca. Mas sim o começo de tudo.

Quando eu crescer, eu quero ser uma pessoa que não para de crescer nunca.

Diandra Arbia.

#1 Epílogo

Não importava o quanto se lavasse, parecia que aquilo jamais sairia dela. Ela precisava tirar aquilo dali, precisava se livrar daquilo como sua tia Anna precisava se livrar de todo o pó do mundo. Cinco, seis, sete vezes. Blair já havia ensaboado todo o corpo sete vezes, esfregando vigorosamente com a esponja. Sete. E a sensação de imundice parecia apenas crescer. A dor incomodava, mas lhe servia bem. Era bom sentir algo diferente, apenas para variar. Era bom ter o foco desviado para aquelas chamas de fogo invisível que queimavam toda a superfície do seu corpo. Sua pele estava vermelha, irritada, como que pedindo um alívio. Ardia. Sete vezes. Quando ia aprender que água e sabão não lavam sentimentos?


                                                                                        ♥

sexta-feira, abril 05, 2013

Mais uma.



De tempos em tempos, escrevo uma carta para você. Você nunca respondeu. Dessa vez, no entanto, não é culpa sua. Você nunca recebeu nenhuma delas. Você nem sabe que eu escrevo. E, certamente, nem sabe que a sua ausência está, até hoje, tão presente na minha vida. Eu não sei por que insisto nisso. Não entendo por qual motivo simplesmente nunca consegui deixar você ir. Logo eu, que sempre consegui me desligar das pessoas tão facilmente. 

Mas não consigo evitar. Não com você. Quando acho que segui em frente, percebo que já não pensava em você há meses. E ao fazer isso, é lógico, estou pensando em você. É o fim dos meses sem a sua lembrança me incomodando o peito, martelando a dor da saudade. Daquele espacinho que você vinha ocupando em um cantinho quase invisível do meu inconsciente, você se agiganta e começa a ocupar todo o meu ser.

O que você diria se soubesse que eu quase morri? O que você acharia se eu te contasse que já faz quase cinco meses que me mudei? Fico me perguntando, sem querer imaginar as respostas de verdade. Porque a verdade é que você não se importa. Você não está nem aí. Se estivesse, teria me ligado, teria me procurado, teria insistido. Não teria desistido de mim.

Por que não consigo desistir de você? Será que você já terminou a faculdade de Direito? Por que eu não consigo desistir de você? Como será que estão sua mãe, seu irmão, seus avós? Por que eu não consigo desistir de você? Será que sua casa ainda parece um zoológico? Aí eu lembro que nunca cheguei a conhecer a sua casa nova. Não sei quantas vezes mais você foi à Disney. Nem se você ainda coloca um CD de músicas natalinas para tocar incessantemente no som do carro em todo o mês de dezembro. Eu não sei mais quem é você. E, com isso, só sei que, seja lá quem você tenha se tornado, eu nem te conheço ainda, mas você consegue amargar meu dia e seu silêncio fica gritando nos meus ouvidos.

Por quê?

quinta-feira, agosto 16, 2012

Comichão é uma palavra feminina.


E tudo o que ela sentia naquele momento era aquela chata coceira de não pertencer. Uma fisgada angustiante que começava leve, como uma comichão incômoda, pontuada por um despeito delicado.
Despeito, inveja. Dava tudo na mesma. Sentia-se na merda. Como se colocada de lado. Como se o mundo tivesse cortado a internet dela e só dela. Como se tivessem tirado do ar a tevê, o telefone e a rede de celulares dela e só dela.

Será que não significava nada para ninguém? Será que, mais uma vez, havia se enganado com toda essa história de amizade? Ilusão vinha se tornando uma coisa estranhamente comum nos últimos... Todos os anos de sua vida, agora que parava para pensar. Desde a primeira amiguinha, até as aquelas últimas pessoas a quem chamava de “amigos”. Sempre gostava e se importava mais do que gostavam e se importavam com ela.