quarta-feira, junho 23, 2010

É.

Faltava pouco, quase nada. Mas quem, afinal, é bom em esperar?
Ela, definitivamente, não era. Não sabia sequer o que dizer, mas precisava dizer alguma coisa.
- É.
- É - ele respondeu, assustado pela manifestação repentina.
- Então acho que é isso - continuou ela.
- É - balbuciou ele nervosamente, claramente contrariado.
- Que pena - respondeu ela, tentando parecer o mais indiferente e gélida possível. 
Ele pôde sentir aquela atitude e aquilo o machucou. Sentiu que iria dobrar o corpo, mas aguentou firme.
Enquanto isso, ela queria gritar, implorar para que fosse diferente e que tudo voltasse ao normal. Pediria desculpas, se assim fosse necessário. Aceitaria as dele, se ele as desejasse. Ela queria ser abraçada. Queria sentir o calor daquele corpo mais uma vez. Mas permaneceu impávida. Assim era ela.
- Acho que... - começou ele, sem saber como terminar.
- Então... tchau, eu acho. - Determinou ela, louca de vontade por ficar e não ir a lugar algum.
Ninguém se mexeu.
Olhavam nervosamente um para o outro, desviando os olhos, reparando em volta.
57 linhas no teto, ela já havia contado três vezes.
A garota torcia as mãos nervosamente. Estalou todos os dedos duas vezes e tentava a terceira, sem sucesso algum.

Sucesso. Essa era uma palavra que não pertencia a vida dela.

terça-feira, junho 08, 2010

Para. Para. Para. Para. Bens.

Eu não sei lidar com isso. De repente você está vivendo sua vida normalmente, acordando um dia após o outro e fazendo aquilo que você tem que fazer e que o mundo espera que você faça. E quando você menos espera, pronto. Chegou. E agora? Sempre fico completamente meio sem saber o que fazer. Já tentei encarar a situação de maneiras diversas. Todo ano invento uma maneira diferente para agir. E todo ano termina sendo igual. Ou melhor, a cada ano piora. Exceto pelo último. E eu sei que nada vai superar aquele último. Mas é muito complicado saber que dificilmente algo será melhor. A lembrança é maravilhosa, mas é difícil saber que você não pode esperar que algo seja melhor.

Depois de tantos anos ruins, eu queria que as coisas melhorassem sempre. Mas é sempre o contrário. Exceto pelo último. Confesso que ao ver como as outras pessoas lidam com isso me bate uma invejinha. Me dá uma pontinha de não-sei-o-quê. Incomoda. E dói um pouco. Por que as coisas precisam ser tão difíceis para mim sempre? Por que eu não posso ser normal de vez enquando, só para variar?

Ano passado o presente foi o melhor possível. E agora fico às voltas, com medo de perdê-lo. Aquele tipo de piada que Deus deve fazer vez ou outra. Aquelas coisas de dar e tirar. Fina irônia. Ele é bom nisso, acredite. Mas eu já sei dar valor a isso. Eu já sabia desde muito antes daquele dia. Eu esperei tanto por isso. Tive tanto tempo para me preparar. É impossível não reconhecer a importância que as coisas tomam na sua vida. E neste caso ainda mais.

E aí, fica essa coisa: quando chegará o dia? Quando eu vou ter de dizer "Adeus?". E o pior é que isso vêm quando você quer - mais do que nunca - dizer olá, olá, olá. Para sempre.

E então volta o fato de que eu não sei lidar com esse dia. Eu não sei lidar com esse acontecimento. Sou ótima conselheira quando é com a vida de outras pessoas. Mas não me peça para lidar bem com isso. Não hoje. Não nessa vida.

Neste ano a coisa meio que vem prometendo ser pior que sempre. Eu não pretendo ser pessimista. É apenas uma visão realista do que se passa hoje. Tantas coisas vão sendo perdidas. E por mais que eu corra, eu não consigo recuperar nada. E aí vai sobrando apenas uma vaga lembrança, como um desenho molhado, que aos poucos vai sumindo e cujo papel vai se despedaçando.

Sinto as coisas dentro de mim se despedaçarem a cada dia. E fora dela, então!? Ainda mais. E bem quando eu estou nessa ânsia de construir. E bem quando eu quero fazer.

E aí vem esse dia bobo. E teima em fazer tudo que já é difícil, ainda mais. Se pudesse dormir durante estas vinte e quatro horas sem acordar depois me sentindo ainda menor, mais sozinha e mais infeliz, eu dormiria. Eu não sei o que fazer, mas eu queria saber. Eu não sei como agir. Mas quero agir certo. Eu não sei como reagir, mas não quero reagir mal.

Eu queria um bolo. E uma bandejinha de brigadeiros. E guaraná. E bexigas.

E aí, hoje é um dia em que eu acredito em horóscopos. E - mais que nunca - quero mesmo acreditar. Você acredita em horóscopo?

- "Só quando as previsões são boas", respondo.

E aí ele diz, bem no finalzinho, como quem não quer nada. Como quem ia passando batido, contando tudo e esquecendo desse "detalhe". E aí, opa!, tem isso. E ele lembra e conta na última linha de tudo, como a última e mais necessária e esperada frase de todas. E me dá esperanças. "Final de fase difícil", o astrólogo escreveu. E eu quero acreditar. E eu me sinto inflar daquele sentimento que gela o estômago e que dá forças para continuar e não dormir durante vinte e quatro horas non stop; Dormirei ao menos por oito. A esperança veio graças a um astrólogo que nem usa barba de Merlin e nem usa um chápeu estrelado.

Ele simplesmente estava entediado e resolveu jogar a frase ali no finalzinho. Como que apenas para mexer com a minha vida. E sem sequer saber - ou às vezes sabendo, já que ele é astrólogo - remexe minha vida e dá esperança. Me dá vontade de continuar mais um pouquinho.

Então tá. Lá vou eu. Não posso falar por nós. Mas falo por esta garota de olhos vermelhos, úmidos e nariz ainda mais vermelho.Falo por esta garota descabelada, de moleton e que usa meia calça com uma meia soqueete cor de rosa por cima. Essa mesma que quer, pela primeira vez, poder ouvir "com quem será"
batendo palmas, sem esconder o rosto, nem chamar a mãe.

Feliz 22 outonos gelados (e gripados) para mim. *suspira*
Parabéns.