terça-feira, novembro 06, 2007

Somos "fanfarrões" querendo "pedir pra sair"

Não posso andar pela rua até tarde. Não posso pegar ônibus depois de certa hora. Nunca faço aqueles rolês alternativos pra São Paulo que exigem pegar o trem e o metrô nas últimas ou primeiras horas do dia. Não fui na Virada Cultural. Não posso viajar sozinha. Se eu ficar trabalhando até mais tarde, devo chamar o vigilante da rua para me escoltar na saída. Pago caro para voltar da faculdade para casa de noite de van. Quando preciso ir a algum lugar de noite, minha mãe prefere que eu pague um táxi.

Preciso olhar em volta o tempo todo enquanto caminho na rua. É imperativo que segure minha bolsa junto ao meu peito. Se vou a algum lugar considerado mais perigoso, devo, hipócritamente, me vestir de maneira simples e usar o tênis mais furado que encontrar. No carro, preciso fechar os vidros e esconder a bolsa embaixo do banco.
Minha mãe conta que, antigamente, voltava dos bailes de madrugada caminhando e tomando o leite da porta das casas. Eu morro de inveja.

Vivemos em uma bolha e, assustadoramente, nem dentro de nossas casas estamos seguros. Mês passado, fui até a Brasilândia, favela conhecida como a mais perigosa de São Paulo. Estava com a polícia militar e, como num paradoxo, foi quando me senti mais vulnerável. Se olhasse atentamente, descobria fuzis apontados para nós. Foi uma experiência única.
Meu pai mora em condomínio fechado, estou morando em um prédio cheio de câmeras.

A sociedade abre mão de direitos básicos simplesmente por ansiar pela segurança. Somos prisioneiros de nós mesmos. O ladrão rouba também por alguma culpa nossa. É isso o que faz sentido naquela hora, naquele lugar. Enquanto vamos assistindo nossas vidas passarem de dentro dos blindados e fechamos os vidros no semáforo, fechando mais uma porta para o que precisa, sequer percebemos que o panoptismo é aqui, é agora.


Pauta Capricho nº 1032. Tudo de Blog
- "A violência que rola faz vocês pensarem duas vezes antes de fazer alguma coisa?"

5 palpites bem-vindos!:

Jéssica Cruz disse...

Quando a viatura da polícia passa, eu já acelero o passo que coisa boa não é.

leticia sayuri * disse...

o pior é que as coisas são assim e nós temos nossa parcela de culpa. mas preferimos instalar um circuito fechado de câmeras para gravar o rosto do assaltante do que pensar em alguma atitude para mudar a situação. ...

Unknown disse...

muito bom. nossa, m u i t o bom mesmo.
nunca mais tinha aparecido por aqui.

beijinhos.

Elsa Villon disse...

Pois Veterana... estamos presos. Mesmo soltos.


Minha mãe também voltava do baile de madrugada bebendo o leite da porta das casas. E hoje eu não posso voltar mais tarde, senão já é motivo para ativar meu GPS (vulgo celular).

Estamos presas...

O ano passado, com o ataque do PCC, minha mãe e meu ex morriam de medo. Não saíamos na rua... via viaturas da força tática com enormes fuzis saltando de suas blazers blindadas... e nós expostos ali...

O jeito é apertar cada dia mais o cadeado da nossa liberdade.

Thamires disse...

é a realidade! O MEDO


BJUSS