E aí que eu tinha um par de saltos altos (os mesmos da entrevista de São Caetano). Eles eram pretos e lindos. E eram meus há mais ou menos quatro anos. Eram praticamente novos, já que eu nunca tinha conseguido utilizá-los adequadamente, sem medo de ser feliz, ou de dar um passo. Ele saía do meu pé o tempo inteiro. Era um inferno. Mas ele era lindo. E a sola estava novinha de tão pouco uso.
Aí eu ganhei da minha mãe uma espécie de palmilha de silicone que fica só na parte da frente da planta do pé e é antiderrapante e confortável. E deixava a vida mais bonita. E na mesma semana eu fui numa loja de sapatos e comprei uma espécie de almofadinha pra colar na parte de trás do sapato, aquela que sempre machuca o pé das mulheres de bem. E aí o sapato parou de sair do meu pé. E a vida ficou mais colorida e eu fiquei mais elegante e feliz.
Finalmente comecei a utilizar o sapato sem medo de nada. Era uma nova mulher, corajosa. Mas eu sempre tive o hábito de carregar um par de tênis ou chinelos quando estou de salto. Já sofri muito com sapatos sem-vergonhas que destruíam minha vida, meus pés e minha dignidade. Então eu sempre voltava pra casa de tênis ou chinelo, como que para me preservar (do ponto de ônibus até minha casa são uns 15 minutos de caminhada).
Um dia eu fui ao shopping Eldorado com meu namorado, jantar qualquer coisinha. Comemos e quando estava na estação de trem, indo embora, sentei e coloquei os tênis. Era tarde e precisaríamos correr para voltar para São Bernardo em um tempo decente. Então guardei o meu lindo par de sapatos na sacola de papel que carregava.
Aí, claro, choveu. (E uma garrafinha de água vazou na sacola)
E para quem não sabe, papel e chuva não combinam. Logo, algo deu muito, muito, muito errado. Só que eu não percebi.
Eu e o Renato corremos como se nossa vida dependesse disso e conseguimos pegar um ônibus legal e com ar condicionado, no Morumbi. Chegamos em um horário decente. Viva! Mas eu estava muito cansada e deitei na minha cama. E minha mãe entrou no quarto. E viu a sacola, jogada num canto. Curiosa que era, foi mexer e descobriu um buraco. Aliás, uma cratera.
E naquele instante, a verdade passou pelo meu corpo e eu compreendi o que havia acontecido. Corri para a sacola, mas era tarde demais: um pé do meu lindo (e único) par de sapatos havia se perdido para todo o sempre. Justo quando ele finalmente havia sido transformado em uma força do bem e da elegância.
Foi aí que eu chorei como um bebê.
E é aqui que me apresento novamente: Prazer, Zica é o meu nome do meio.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
1 palpites bem-vindos!:
Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiii....que do!!! Eu ia chorar demaaaaaais...
Beijos,
Tati
PS: Adorei seu comentário no meu blog...
PS2:Saudade de jogr conversa fora...
Postar um comentário